A flor que hoje vi é
indescritível.
Era de um azul inimaginável, que
nenhum ser humano até hoje conseguiu ver.
Toquei nas pétalas. Logo soube
que esta flor era diferente, pelo seu tato que era tão suave, mas não daqueles
que se cola aos dedos.
Nem pelas montras das floristas
vi flor igual. Procurei por todos os cantos de Portugal.
Gastei uma quantidade incontável
de moedas para procurar flor da mesma espécie. Pensei ir ao Açores e à Madeira.
Mas não…
Fiz então uma coisa inaceitável,
até mesmo para mim: arranquei a flor do solo.
Ao fazê-lo, uma coisa molhada
escorreu-me pela cara. Não era chuva, eram lágrimas. Não de tristeza, não de
pena. Eram de raiva do meu ato. E logo vieram outras acompanhá-la, para não se
sentir tão sozinha.
Ouvi umas palavras: “Se uma lágrima cair, transforma-te numa
delas para sentir a sensação”.
De repente, as minhas lágrimas
caíram. Lembrei-me das palavras e fechei os olhos, tentando sentir a sensação.
Imaginei um mar de lágrimas e enquanto nadava, chorava mais, criando um oceano.
Por segundos, esqueci-me por que
chorava. A mesma voz relembrou-me: “É
pela flor”.
Acordei. Fui à cozinha beber um
chá de tília e reparei. Ali estava a flor indescritível, num vaso, num sono
profundo.